Responsabilidade dos Preletores: Um Chamado ao Zelo Pastoral e à Proteção da Igreja

Responsabilidade dos Preletores: Um Chamado ao Zelo Pastoral e à Proteção da Igreja

A responsabilidade dos preletores e dos líderes que os convidam.

Em tempos de acesso rápido à informação e viralização de conteúdos religiosos, o papel dos pastores e líderes espirituais tornou-se ainda mais desafiador. A responsabilidade de conduzir o rebanho com zelo e discernimento não é apenas um chamado divino, mas uma tarefa que exige sabedoria, temor a Deus e vigilância constante. Entre tantas atribuições, uma das mais sensíveis é a escolha de quem sobe ao altar para ministrar a Palavra ao povo de Deus.

Quando o carisma supera o critério

Nos últimos anos, temos visto um crescimento considerável de “celebridades da fé” que conquistam espaço em eventos, congressos e redes sociais. Muitas vezes, o critério para convites e oportunidades à pregação tem sido mais o carisma do que o caráter, mais o engajamento online do que a profundidade teológica. E isso tem gerado frutos amargos dentro das igrejas.

Um exemplo recente que chamou a atenção nacional foi o do jovem pregador Miguel Oliveira, conhecido como “pregador mirim”. Aos 15 anos, Miguel foi proibido pelo Conselho Tutelar de pregar em igrejas, viajar e utilizar redes sociais, após a repercussão de vídeos em que rasgava laudos médicos e declarava curas milagrosas de doenças graves como câncer e leucemia. A medida, que determinou também o retorno do adolescente às aulas presenciais, gerou um amplo debate sobre a exposição de menores em atividades religiosas públicas e os limites da liberdade de expressão.

A intenção aqui não é criticar o menino Miguel, mas refletir sobre a responsabilidade dos adultos que o cercam. Quem permite que uma criança assuma tamanha carga espiritual, emocional e ministerial? Onde está o cuidado pastoral e familiar nesse processo? A Palavra de Deus é clara: “Não impõe as mãos precipitadamente sobre ninguém…” (1Tm 5:22).

Os perigos da imaturidade espiritual

Dar palco a pessoas que ainda estão em fase de formação espiritual, seja pela idade ou pelo tempo de caminhada, pode ser um desserviço ao Reino. Em outra ocasião polêmica, vimos pregadores ganharem fama por profetizarem riquezas, venderem objetos ungidos e utilizarem linguagens sensacionalistas para atrair multidões. Muitos desses “ministérios” estão hoje envoltos em escândalos, afastando pessoas da fé e desacreditando o Evangelho.

A responsabilidade não está apenas em quem prega, mas também em quem autoriza a pregação. O altar é lugar sagrado, e deve ser preservado com temor. Quando um pastor permite que um convidado ministres em sua igreja, ele está, de certa forma, validando aquilo que será ensinado. A pergunta que precisa ser feita é: esse preletor tem compromisso com a Palavra? Sua vida condiz com aquilo que ele prega?

Pregadores que ensinam outro evangelho

Não é de hoje que Paulo alertou: “Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos pregasse outro evangelho, além do que já vos pregamos, seja anátema” (Gl 1:8). Esse texto nos chama à responsabilidade de sermos guardiões da sã doutrina.

Hoje, muitos estão trocando a sã doutrina por pregações motivacionais, cheias de frases de efeito e promessas vazias. A igreja não precisa de show, mas de Palavra. Não precisa de estrelas, mas de servos.

Infelizmente, vários exemplos se acumulam: há quem afirme conversar com anjos diariamente, outros que vendem “sementes da fé”, óleos milagrosos, toalhinhas de poder. Alguns até distorcem textos bíblicos para justificar comportamentos antiéticos e gananciosos. O resultado é um povo confundido, sedento por verdade, mas alimentado com engano.

Crianças no altar: dom, chamada ou pressão?

Voltando à questão dos menores, é importante entender que Deus pode sim usar crianças, como fez com Samuel. Mas é fundamental discernir entre uma chamada autentica e uma exposição imprudente.

Há uma linha tênue entre incentivar o dom e sobrecarregar uma criança com responsabilidades que não deveria carregar. Toda vocação precisa passar pelo processo do tempo, da formação, da maturidade. Líderes e pais precisam ter coragem de dizer “ainda não é hora”, mesmo que isso contrarie expectativas.

A pressão por visibilidade, a vontade de mostrar um “talento precoce”, pode levar muitos a pularem processos. E quando não há raízes profundas, qualquer vento de doutrina pode derrubar.

A responsabilidade dos preletores e o impacto sobre o altar da igreja

Pastores e líderes têm a missão de zelar pela sã doutrina, pela vida espiritual da igreja e pelo bom testemunho público. Vivemos em um tempo em que qualquer erro vira notícia, qualquer escorregão vira meme, e qualquer exagero é amplificado.

Por isso, a escolha dos preletores precisa ser feita com temor. Não basta ter um nome famoso. Precisa ter vida com Deus. Precisa ter compromisso com as Escrituras. Precisa ser exemplo dos fiéis (1Tm 4:12).

Essa responsabilidade não é apenas espiritual, mas também institucional. Uma igreja que abre espaço para pregações heréticas compromete seu legado, sua credibilidade e pode ser alvo de investigações legais. Afinal, o uso de crianças, falsas promessas de cura e manipulação de fiéis podem configurar inclusive crimes.

Um chamado à vigilância e ao zelo

Portanto, este é um chamado aos líderes: cuidem do altar. Vigiem quem está sendo convidado. Discipulem os que têm chamado. Deem tempo para que os dons floresçam com saudabilidade.

Nem tudo que emociona edifica. Nem tudo que viraliza glorifica a Deus. O que transforma vidas é a Palavra pura, simples, poderosa.

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Que cada convite a um preletor venha acompanhado de oração, avaliação e discernimento. Que os menores sejam protegidos, incentivados no seu tempo e preparados com responsabilidade. E que cada igreja seja conhecida não por espetáculos, mas por formar servos humildes, profundos e firmados na Rocha.

Que Deus dê sabedoria, coragem e discernimento a cada pastor, líder e igreja que deseja honrar o nome de Cristo acima de tudo.

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